A história do PCB em Cascavel
Fruto das lutas operárias no início do século XX, o Partido Comunista surgiu no Brasil em 25 de março de 1922, ano de grande significação histórica – no período aconteceriam ainda a Semana de Arte Moderna e a eclosão do movimento tenentista. Participaram de sua fundação, no Rio de Janeiro, nove representantes dos 73 primeiros comunistas: Astrojildo Pereira, jornalista – Cristiano Coutinho Cordeiro, funcionário público – Hermogêneo Silva, eletricista – João da Costa Pimenta, gráfico – Joaquim Barbosa, alfaiate – José Elias da Silva, funcionário público – Luís Peres, vassoureiro – Manoel Cendón, alfaiate, espanhol – Abílio de Nequete, barbeiro, sírio.
No Paraná, o Partido começa a atuar na década de 30, com militantes egressos do movimento anarquista, sobretudo trabalhadores ferroviários e portuários. Em 1936, o farmacêutico Tarqüínio Joslin dos Santos chega ao Oeste do Paraná trazendo idéias revolucionárias. Em 1945, em Curitiba, na I Conferência Estadual, destacaram-se os militantes Walfrido Soares de Oliveira, Meireles, Dario e Arpad Printz, Júlio Vovô Manfredini, Jacob Schmidt, Nilo Izidoro Biazetto e Nélson Torres Galvão.
O Partido chega a Cascavel nessa década, contando, além de Tarqüínio, com um grupo de alfaiates, tendo à frente Durval Hoff, que havia sido preso e torturado pela ditadura Vargas. Tarqüínio participa da luta pela emancipação do Município e concorre às primeiras eleições municipais, em 1952, pelo Partido Republicano, já que o PCB havia sido novamente jogado na clandestinidade em 1947. Perdeu por apenas um voto, porque não pôde votar em função de um acidente com seu veículo numa estrada precária do interior. Teria sido o primeiro prefeito comunista do Paraná.
Passada a eleição municipal, Tarqüínio trouxe à região o encarregado de estruturar o PCB no interior do Paraná. Era João Saldanha, que depois veio se notabilizar como jornalista e comentarista esportivo, além de ter iniciado a formação da Seleção Brasileira de Futebol que viria a conquistar a Copa do Mundo Jules Rimet em 1970.
Como o PCB foi tornado ilegal e condenado à clandestinidade pelo governo Dutra, João Saldanha convenceu Tarqüínio a formar em Cascavel um núcleo legal irradiador da reforma agrária. Esse núcleo foi criado em janeiro de 1953 − a Associação Rural de Cascavel.
Numa comunidade pequena, dava na vista a ausência daquele grupo de pessoas às missas dominicais, pois as origens anarquistas do Partido o tornaram fortemente anticlerical, e isso não era bem aceito em comunidades de origem européia, marcadas pela religiosidade. Para disfarçar e não atrair a atenção da polícia, os comunistas passaram a freqüentar a Sociedade Espírita Paz, Amor e Luz (Sepal), criada em 1956. Durval Hoff integrava a diretoria da Sepal.
No final da década de 50, chega a Cascavel o afinador de sanfonas Mário Ferreira de Oliveira. Ao lado de outros companheiros, ainda antes de ter contato com o PCB, inicia um movimento pela reforma agrária. Trava contato com o dirigente estadual Agliberto de Azevedo e com o militante local Vitorino Ferri, que o levou a Durval. O PCB então, mesmo na clandestinidade, promovia reuniões, palestras e fazia circular o jornal Tribuna Operária.
Em 1963, o Partido conseguiu criar o Sindicato dos Produtores Autônomos de Cascavel, que viria a ser a origem do atual Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cascavel.
Com o golpe de 1° de abril de 1964, os comunistas foram perseguidos. Alguns líderes foram presos e torturados. Outros conseguiam fugir para o Paraguai e o Mato Grosso. O fotógrafo João Zacarias, o João Baiano, responsável pelas atas do PCB, era posseiro próximo ao rio Melissa. O jagunço Marins Belo levou a repressão até seu barraco. A esposa de João Baiano não teve dúvidas: ateou fogo na casa e destruiu toda a documentação que levaria os comunistas de Cascavel à prisão.
Durval foi preso, mas não havia provas e foi solto. Mário teve a casa arrombada de madrugada, foi algemado e teve armas e munições em sua posse apreendidas. O advogado Airton Reis tentou libertá-lo, sem sucesso. Foram dias de tortura, apesar dos depoimentos a seu favor por parte do fotógrafo Peados Hartmann e do comerciante Theodoro Colombelli.
Passou dias sem comer e foi levado a Foz do Iguaçu. “Levavam-me aos empurrões, eu caía e não podia me proteger com as mãos e me feria o rosto nas paredes. As moscas varejeiras depositavam imundice nos ferimentos e eu me sentia um cadáver vivo”.
Em 1985, com o retorno do Partido à legalidade, forma-se a Comissão Municipal de Cascavel, com estes integrantes: Yves Consentino Cordeiro, advogado – Alceu A. Sperança, jornalista – Luci Suzana Bedin, estudante universitária – João Carlos Meassi, bancário – Estefano Anzoategui, jornalista – Eduardo Lima, publicitário
Com a traição de Roberto Freire, ao tentar liquidar o PCB com a formação do PPS (Partido Popular Socialista), em 1991, o impacto foi muito forte, mas o Partidão sobreviveu a todos esses embates e sofrimentos. Hoje, prossegue em sua marcha rumo à verdadeira democracia – o Socialismo.
queria saber como vcs companheiros conseguiram meu blog ?
Professor Bruno: Descobrimos seu blog numa pesquisa sobre a revolução socialista.
pesquisando o nome Vitorino Ferri no google, encontrei esse importante documentario onde aparece a foto de meu pai, moreno escuro do lado direito da reportagem o fotografo citado.
Agrato.
Eu gostatia de saber se vocês tem mais imformações sobre um dos fundadores do PCB, o José Elias da Silva. ele tem o mesmo nome do meu bizavô. Sei que é um nome até comum, mas queria saber se tem alguma relação. Seria um orgulho ter algum parentesco com um dos fundadores do partido.
Consta na história do movimento operário brasileiro que José Elias da Silva trabalhou como pedreiro, sapateiro e foi funcionário público no Rio de Janeiro. Foi um dos mais importantes líderes das primeiras lutas dos trabalhadores nas primeiras décadas do século XX. Na fotografia oficial dos nove fundadores do PCB, ele é o cidadão de bigode, de pé, à sua direita.
Gostaria de ter mais informações, se possível, documentos historicos sobre meu avô – Durval Hoff
Há livros em que Durval Hoff é mencionado como um importante líder do movimento camponês revolucionário, como em “A Foice e a Cruz”, de Osvaldo Heller da Silva. Foi alfaiate, residiu em Cascavel, participou da organização sindical na região Oeste do Paraná. Foi preso e torturado pela ditadura Vargas, sofreu perseguições a vida inteira por estar sempre em defesa dos trabalhadores do campo e da cidade. Infelizmente a documentação do PCB de Cascavel foi destruída por um incêndio no curso da perseguição da ditadura fascista de 1964. Se puder nos fornecer mais dados, agradecemos.
Sou filho de Joào Zacarias de Mattos, tenho em minhas màos parte de manuscrito que eu digitei, de um doc. que continha 658pag. e foi extraviado e confiscado durante a ditadura militar. relata as Uniào dos trabalhadores de cascavel, Quando criança conheci seu avô e sua companheira que chegou ser minha professora no grupo escolar moiseis lupion. Pretendo montar um livro, lembro-me dos dois filhos de Duval. Tinha uma foto que foi extraviada onde seus seguravam uma faiixa de aproximadamente 5m ao fundo os membros da associaçào.
Agradecemos, Vanzete. Tudo o que diz respeito a João Zacarias de Mattos e família nos interessa, para registrar na história do PCB e do movimento popular no Paraná e também para os anais do Museu Histórico Celso Formighieri Sperança. Estamos à sua disposição.
Meu avô – Durval Hoff, minha avó, Joseph Iracema Nogueira, e seus filhos, José Carlos Hoff (falecido) e meu pai, Artur Oscar Nogueira Hoff. Sabe sabe me dizer se existiu um DOPS em Cascavel, ou toda informação ía para Curitiba ? Estou questionando o Arquivo Público do Paraná, mas ainda não obtive resposta.
Naquela época havia só um destacamento da Polícia Militar em Cascavel, que só em 1968 se transformou em Batalhão da Polícia Militar.
Pelo que sabemos, as informações sobre Cascavel eram coletadas na Polícia estadual em Foz do Iguaçu e encaminhadas ao DOPS.
Nosso camarada Aluizio Palmar, que reside em Foz, tem um blog no qual ele está apresentando os registros da espionagem governamental sobre nossos militantes.
http://aluiziopalmar.blogspot.com.br
Ali ele já postou cópias de documentos, dentre outros, sobre Tarquínio Santos e Estanislau Kokojiski.
No caso do Estanislau, a ficha é do DOPS de Curitiba.
No caso do Tarquínio, é um comunicado da Polícia de Foz para o DOPS de Curitiba.
Vanzete Moreira de Matos, pelo que consta nas anotaçòes de meu falecido pai da para saber que existia na policia influencia da madeira Pinho Terra e logo depois os militares tomaram conta e um dos manda chuva era um grileiro de nome Marins Belo. Só entenderá lendo essas anotaçòes. Acho que mudará o rumo, e valorizará aqueles que morreram para que hoje tenhamos este modelo social. Lembro de seu pai o tuzinha era o mais velho, nào era? Seu avô e meu pai eram muito corajosos, naquele tempo havia muitos jagunços e eles corriam muito perigo de vida.
O meu era o mais velho, conhecido com Tusa.
Então é isso, é bom saber de voces, quando montar as anotações de meu pai (falecido em 4/4/208) enviarei uma cópia para você. Nela contem toda história da cidade de cascavel, Pato Branco, e outras regiões adjacentes. Conta história desde da primeira UGTC. antes e depois do incendio da prefeitura de Cascavel.
Desde já agradecemos. Estas informações serão de grande utilidade para contar a verdadeira história do nosso povo.
Vanzete Moreira de Matos para Artur Fabiano Hoff
Gostaria que me enviasse um endereço, para que eu possa estar te enviando os documentos de meu pai selecionado e digitado por mim. Qualquer outro documento que possua poderá enriquecer com esses. Estou pretendendo montar um livro. Grato pela atenção
Ficamos à disposição para cooperar com aquilo que estiver ao nosso alcance.
pilzhoff@ibest.com.br
Desejamos sucesso ao Vanzete na elaboração desse livro e cumprimentos ao Artur Fabiano pelo empenho em resgatar a história de patriotismo e lutas de Durval Hoff.
VANZETE MOREIRA DE MATOS PARA ARTUR FABIANO
GOSTARIA DE LHE ENVIAR AS ANOTAÇÕES E O ENSAIO DO LIVRO.
COMO POSSO ESTAR FAZENDO ESTE ENVIO?
VOCE PODERÁ ESTAR FAZENDO OBSERVAÇÕES NAS ANOTAÇÕES SE POSSIVEL?
Sim. POderia enviar para Rua Engenheiro Cavalcanti, 34, Ap .101 – Tijuca – RJ, se for em midia pode enviar para pilzhoff@ibest.com.br.
BOM DIA,
ARTUR FABIANO.
JÁ LHE ENVIEI OS DOC. VIA CORREIO. CONFIRME. DÊ SUA OPINIÃO.
GRATO, VANZETE
Cumprimentos a todos!
Eu recebi, por acaso o meu pai estev em minha casa e leu, e sabe tudo sobre esta época e poderia ajudar muito.
isso é ótimo, é uma oportunidade única para valorizar os trabalhos desses que ariscavam suas vidas. Agradeço pelas colaborações.
Olá, camaradas! Estou morando em Cascavel, sou professora e militante comunista. Gostaria de estar mais próxima do PCB da cidade. Onde encontro vocês? Como podemos manter contato?
Abraços!
Agradecemos pelo contato, Tatiane. Fazemos questão de sua companhia entre os militantes em Cascavel.